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Comitê é criado para auxiliar profissionais e autoridades: “Trabalhadoras de enfermagem precisam ser ouvidas”

Grupo é composto por oito órgãos da área de saúde

Uma pandemia de coronavírus se alastrou pelo mundo e causou pânico à população, que foi recomendada a ficar em quarentena pelos próximos dias até que a situação melhore. Com o mínimo contato físico possível e os cuidados com a higienização, as pessoas podem se livrar do pior, mas alguns profissionais, como por exemplo, os enfermeiros, precisam, querendo ou não, se submeter a situações de grave risco em prol de uma causa maior. É por isso que um comitê foi criado especialmente para ajudar os trabalhadores da saúde, que, mais do que nunca, precisam de atenção e assistência, assim como os pacientes.

O Comitê de Enfermagem para o Enfrentamento da Covid-19 foi criado no dia 20/03 por professoras da Escola de Enfermagem da UFBA (EEUFBA) juntamente com organizações representativas da enfermagem na Bahia. Com o objetivo de auxiliar os técnicos de enfermagem e enfermeiros, que correspondem a cerca de 60% dos profissionais de saúde, o grupo fornece informações e suporte para que eles consigam se proteger da melhor maneira possível no período da pandemia.

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Atendendo não apenas aos que trabalham em hospitais, o grupo também fornece ajuda a autoridades sanitárias. “A gente já teve reuniões com a Secretaria Municipal e Estadual de Saúde para ouvir a demanda, como por exemplo, apoio na campanha de vacinação. A escola de enfermagem chamou um voluntariado e ele vai apoiar a campanha. A Secretaria Estadual pediu uma ajuda, então a escola criou um grupo próprio para dar suporte”, conta Mariana Moraes, professora da Escola de Enfermagem da UFBA e uma das idealizadoras do Comitê.

Ela ainda afirma que o objetivo principal é levar informações úteis e corretas, escutar denúncias dos enfermeiros e dar suporte no que cada um precisar. Em caso de reclamações sobre alguma unidade hospitalar, o grupo também vai até o local para verificar a situação.

“O comitê tem como foco orientar, apoiar e agir na defesa desses trabalhadores, mas trazendo um espaço de escuta, de acolhimento, de troca de informação rápida e confiável, então todas as nossas informações são baseadas nos relatórios técnicos da ANVISA, do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde. A gente faz esse levantamento e leva essas informações pros trabalhadores”, informa. “A gente percebeu que eles estavam se sentindo com medo, estavam apreensivos nesse processo, sem segurança”, completou em outro momento.

Pelo constante contato com profissionais da saúde, Mariana conseguiu perceber o medo que as companheiras enfrentavam com o passar dos dias e decidiu ajudá-las da melhor forma possível.

“Tenho muitas colegas que estão na linha de frente e eu comecei a ficar incomodada com o que elas estavam passando em relação ao medo, a não terem informação da forma mais correta. Nós estávamos recebendo muitas fake news, muitas informações que vinham criando mais pânico, e aí eu me sensibilizei muito pela questão da crise em si, por saber o que a gente viria a enfrentar e como que essas trabalhadoras estavam tendo suporte”, disse a professora.

Apesar da dificuldade dos enfermeiros e auxiliares na questão da proteção e preparamento para a pandemia, Mariana afirma que as equipes foram bem treinadas e orientadas para a situação, mas “ainda assim há o medo do novo, há vulnerabilidade e risco” para os profissionais e a população em geral.

Formado por oito órgãos, sendo eles o Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), os sindicatos que representam enfermeiros, técnicos e auxliares de rede pública e privada (SEEB, Sintefen, Sindseps, Sindsaúde-BA e SindiSaúde), a Escola da Enfermagem da UFBA (EEUFBA) e a Associação Brasileira de Enfermagem (Aben-BA), o Comitê contou com a ajuda de diversos representantes e professores da área da saúde.

Mariana também obteve ajuda da enfermeira Cristina Melo, professora aposentada da Escola de Enfermagem da UFBA, que inicialmente deu a ideia de entrar em contato com os principais representantes das entidades de classes de enfermagem baiana. Sendo assim, representantes dos Sindicato dos Enfermeiros do estado da Bahia, incluindo a presidente do Coren-BA, a diretora da EEUFBA e a presidente da Aben-BA, foram convidados a participarem da ação. Posteriormente, as outras entidades que compõem o comitê foram aderindo ao projeto e trazendo contribuições nessa luta conjunta.

Dois meios de comunicação foram criados para que os profissionais ou a população que queira saber um pouco mais sobre o assunto se comunique com o grupo. Por meio do Instagram, é possível ver alguns conteúdos mais didáticos, mas é pelo e-mail que o Comitê recebe a maioria das mensagens, sendo denúncias ou perguntas que vão desde direito do trabalhador a questões sobre equipamentos de proteção individual (EPIs), biossegurança, epidemiologia ou assistência específica a algum grupo de risco. Segundo a professora, cada e-mail é respondido por profissionais do assunto tratado, por isso, há um grupo de saúde do trabalhador, regulação, saúde mental, epidemiologia, entre outros.

Medidas adotadas pelo comitê:

Entre as decisões tomadas pelo grupo até o momento, estão as reuniões com as autoridades com o objetivo de ter ciência do que tem sido feito pelos profissionais e divulgação de informações sobre o uso dos EPIs, assunto bastante debatido por conta da escassez do material em unidades hospitalares. De acordo com a educadora, 95% dos EPIs são distribuídos da China para o resto do mundo, justificando a falta do produto em alguns hospitais. Para amenizar a situação, o Comitê de Enfermagem decidiu fazer cartilhas, disponibilizadas no Instagram, que expliquem de que forma e em que momento o material deve ser utilizado.

“Não tem como a gente receber todo o material porque são todos do mesmo lugar, há uma falta e demora de chegar. Então a gente orienta esses trabalhadores a como utilizar e em que situações utilizar, porque às vezes se vê na mídia os trabalhadores completamente paramentados, mas são para situações específicas, são para situações dos hospitais que estão tratando casos graves, não significa que o trabalhador da unidade básica de saúde precisa estar com aquela paramentação”, explica.

Ainda segundo a professora, o grupo se comunica com gestores para entender como está funcionando a demanda e o pedido dos insumos. Informativos foram criados, além de grupos de trabalho com especialistas para tentar responder algumas dúvidas e documentos propondo questões importantes de enfrentamento ao novo coronavírus.

Durante a entrevista, Mariana também abordou um assunto que pode ser uma pedra no sapato para os enfermeiros e auxiliares. A enfermagem é uma profissão que, na visão de grande parte dos que exercem o cargo, não é tão valorizada quanto outras profissões da área de saúde.

“A maioria das trabalhadoras de saúde são enfermeiras e são essas profissionais que estão em contato direto com os pacientes do coronavírus. Ficam mais tempo, estão mais vulneráveis a contaminação e estão em maior quantidade”, protestou.

“Trabalhadoras de enfermagem precisam ser ouvidas para que as pessoas deem valor social também a essa profissão”, disse. “Esses profissionais não podem ficar em casa. São eles que vão vestir a roupa e dizer ‘vou lá e vou enfrentar’, por isso que a gente usa o termo ‘Comitê de Enfermagem para o Enfrentamento’, porque as enfermeiras vão enfrentar a doença o tempo todo, e em momento nenhum elas vão poder recuar. Elas precisam estar bem, nos seus postos de trabalho, precisam estar saudáveis (…) as profissionais de enfermagem estão vivendo algo que vai além do que toda a população está vivendo. É importante dar voz a essa profissão nesse momento porque ela precisa ser reconhecida nesse espaço”, finalizou a professora.

Para acolher as dúvidas, demandas e denúncias, os trabalhadores da área de enfermagem podem mandar um e-mail para comiteenfbahiacovid@gmail.com ou acessar o Instagram do comitê @comiteenfbahiacovid19 para mais informações.

Fonte: VN

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