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Depoimento: bastidores do ‘novo normal’ na transmissão de futebol

Juliana Lisboa, repórter da Live FC, conta como a pandemia alterou a rotina da cobertura na Copa do Nordeste

Bahia e Vitória voltaram a campo nessa quarta-feira (22), pela Copa do Nordeste, competição que marcou o retorno do futebol na Bahia. Com certeza você, que acompanhou a transmissão das partidas pela TV ou pela internet, percebeu algumas mudanças. E deve até ter se questionado como ficou o “novo normal” nos bastidores da transmissão. Será que mudou tanta coisa assim?

Pra começar: mudou muita coisa! Mas antes, vou me apresentar: sou jornalista esportiva e desde o início do ano faço reportagem de campo para a Live FC, detentora dos direitos de transmissão da Copa do Nordeste. Por isso posso falar como a nossa logística foi transformada com os protocolos de segurança e saúde da CBF para o retorno do futebol na Bahia.

A pedido da Live FC, fiz o teste para a Covid-19. Assim como eu, todos os colegas de reportagem de campo, narração e comentários também fizeram o exame. Mas adianto que a principal questão foi a gente não ter ideia do que mudaria e como mudaria até a primeira partida. No meu caso, Fortaleza x América-RN, no Barradão, na terça-feira, o jogo que marcava a reestreia da Copa do Nordeste e, por consequência, o futebol aqui no estado.

A primeira novidade foi chegar no estádio. A imprensa normalmente tem acesso por um portão específico, onde tem um estacionamento e acesso ao campo. Dessa vez, tivemos que entrar por um portão da torcida e aguardar até que a equipe da CBF chegasse para controlar as credenciais e aferir a temperatura de cada profissional. Para os jogos durante a pandemia, foi necessário fazer um novo cadastramento com a CBF e com a Federação Bahiana de Futebol (FBF) informando os profissionais de cada empresa. Não tem como entrar no jogo apenas apresentando a carteira profissional, como acontece normalmente.

Vale lembrar que não é permitido ficar sem máscara em momento nenhum – e, por isso, é natural que a voz saia um pouco “abafada”. Feito isso, um funcionário da CBF levava os profissionais da imprensa aonde eles deveriam ficar – cabine de transmissão, no caso de radialistas e cinegrafistas, e arquibancadas, no caso de repórteres e fotógrafos.

Isso mesmo: como não tem torcida, o trabalho de reportagem é feito da arquibancada. E com um espaçamento mínimo de dois metros entre um repórter e outro. No meu caso, como eu fazia parte da transmissão, fiquei mais próxima do campo, para ter acesso ao microfone da equipe. Mas tive que ser acompanhada por um funcionário para chegar a esse ponto. Por controle e segurança, a gente não tem autonomia nenhuma para transitar no estádio por conta própria.

Fotógrafos e repórteres, que antes ficavam no campo, agora trabalham da arquibancada (Lucas Figueiredo / CBF)

E isso acaba tendo um impacto direto no trabalho, que precisa ser tão rápido e ágil. No primeiro dia, acabamos não tendo muito tempo para fazer testes de praxe de retorno e áudio. Durante a partida, choveu muito e demorou um tempo até liberarem um funcionário com um guarda-sol para ficar comigo, protegendo o equipamento e o bloquinho de anotações, maior preciosidade de uma repórter de campo.

As entrevistas com jogadores ficaram liberadas apenas em dois momentos: no intervalo e no final da partida. Aí já tivemos as primeiras grandes mudanças de ordem de produção: normalmente acompanhávamos a chegada das equipes ao estádio e fazíamos rápidas entrevistas para usar no pré-jogo. Também não pudemos trocar algumas palavras com os técnicos antes da bola rolar.

As entrevistas nos momentos permitidos eram novamente com acompanhamento de um preposto da CBF, que nos “buscava” na arquibancada e trazia os jogadores que escolhíamos para falar. É um processo simples, mas tem uma questão técnica: precisamos trocar de microfone quando chegamos no campo, e, para ficarmos prontos à espera do funcionário, temos que desconectar do microfone da transmissão. Ou seja, alguns momentos preciosos de finalzinho de primeiro tempo ou do jogo podem ser perdidos.

Banco de reservas do Fortaleza: nova disposição forçada pelo distanciamento (Foto: Lucas Figueiredo / CBF)

Toda a logística melhorou muito no segundo jogo que participei, Bahia x Náutico, também pela Copa do Nordeste. Como eu e a equipe já estávamos familiarizados com os protocolos e muitos dos funcionários da CBF que estiveram na partida da terça-feira estavam também em Pituaçu, as coisas fluíram mais rápido e isso também impactou de forma positiva na transmissão. A começar por mim: estava bem mais tranquila.

Uma coisa que queria chamar atenção é para um momento especial da transmissão da Live FC, que é a entrega do troféu Craque do Jogo ao melhor jogador da partida, escolhido pela equipe da transmissão. Normalmente, o repórter vai ao campo, entrega o troféu e faz uma rápida entrevista. Agora, é proibido entregar qualquer objeto diretamente a quem quer que seja: o troféu foi colocado num pedestal, devidamente higienizado com álcool, e só então o jogador pôde pegar. Todos os microfones e equipamentos que chegam perto do campo também são desinfetados.

Cada um no seu quadrado higienizado: é o novo mote para trabalhar com segurança. Mas não vou dizer que não tem parte boa: apesar da tristeza de ver um estádio sem torcida, e esse barulho fazer tanta falta, algo positivo pude tirar do jogo. Fica muito mais claro entender o que os técnicos e até mesmo os jogadores falam. As instruções, as broncas, os gritos. Fica tudo muito mais nítido, e dá pra compreender muito mais do que numa partida convencional. Dessa forma, dá para “rechear” a reportagem com mais detalhes – e foi com essa metade do limão que tentei fazer minha limonada.

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